Eduardo Maddux
Acredito que muitas idéias, imaginações e interpretações
diferentes surgiram sobre a palavra "predestinação", confundindo as
pessoas quando abrem as Escrituras, porque achavam que tinham que enquadrar
cada passagem dentro da sua definição de "predestinação". E não pense
que há somente uma definição; existem várias e diferentes. Acredito que é
melhor, já que há muitos exemplos na Bíblia, ver como Deus trabalhava com as
pessoas. Também é bom deixar cada texto falar por si, e não forçá-lo a caber
dentro de uma certa definição.
Quando examinamos o princípio com Adão e Eva, vemos as
informações e as advertências, bem como as ações depois. Eles foram informados
de que podiam comer de quase tudo, e que dominariam sobre os animais, e que
deveriam multiplicar-se e encher a Terra. A advertência era de não comer da
árvore do conhecimento do bem e do mal. Os resultados seriam morte para eles e
as dificuldades adicionais em cultivar a terra. Eles não obedeceram a Deus,
seguindo as mentiras de Satanás, e as conseqüências preditas seguiram. Agora,
podemos dizer que Deus os tinha advertido contra alguma coisa que eles não
poderiam, de jeito algum, fazer? Se dizemos isso, temos que enfrentar uma
Bíblia cheia de advertências, e dizer que Deus é tolo porque não faz bom senso
advertir contra algo que realmente não existe escolha para não fazer. Isso faz
que a Bíblia seja incompreensível. Encontramos situações em que certas pessoas
obedeceram e outras não. As obedientes evitaram os maus resultados, e as
pessoas desobedientes sofreram. Este raciocínio não funciona e chama o Criador
do universo, das plantas, do DNA etc., de tolo, se não há livre arbítrio. Isso
Não Pode Ser!!!!
Em Josué 24.15 Josué encoraja o povo de Israel a escolher a
quem iria seguir. Depois da afirmação deles, ele firmou um acordo com eles.
Durante o tempo dos Juízes, tiveram muitos anos de fidelidade e bênçãos, e
alguns de desobediência e opressão pelos inimigos. Essa idéia de que eles
podiam escolher servir a Deus mostra que ele deixa o próprio homem escolher o seu
caminho; não é forçado. Se Deus sabia ou não que iriam escolher a ele, nós não
sabemos; e se soubéssemos, provavelmente não entenderíamos toda a inteligência
de Deus, e como funciona. Como é que homens podem julgar as ações de Deus,
quando não têm uma miléssima parte do conhecimento dele? "Assim como os
céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do
que os seus caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os seus
pensamentos" (Isaías 55. 9). Se Deus diz que nos dá livre escolha, e nos
julga quando decidimos agir contra ele, quem sou eu para alegar que não houve
livre escolha da nossa parte, caso ele já soubesse o que íamos fazer? O
pensamento de Deus é muito acima do meu. Ele pode conhecer o futuro sem
controlá-lo. Nossas mentes são muito pequenas para contradizer a Deus ou
julgá-lo pelo que Ele diz e faz. Se temos que fazer uma escolha, é realmente
uma escolha, e seremos os únicos culpados se escolhermos mal, depois de
recebermos advertências.
Eu vejo em Isaías 65.2-3 um Deus cheio de amor e pronto para
perdoar, que chama para um povo que não parece querer arrepender-se. "O
tempo todo estendi as mãos a um povo obstinado, que anda por um caminho que não
é bom, seguindo as suas inclinações." Deus quer de volta o coração e a
devoção do seu povo. Ele chama persistentemente, mas deixa a escolha final para
eles. Por isso ele diz no versículo 5b e 6: "'Essa gente é fumaça no meu
nariz! É fogo que queima o tempo todo! Vejam porém! Escrito está diante de mim:
Não ficarei calado, mas lhes darei plena e total retribuição, tanto por seus
pecados como pelos pecados dos seus antepassados', diz o Senhor". Deus
chama encarecidamente; faz tudo possível. Mas se não ouvirem, serão severamente
punidos. Isso para mim soa como responsabilidade pessoal. Ou se arrependa, com
toda a sua escolha nas suas mãos, ou será destruído como resultado da sua má
escolha, não porque Deus o forçou a ser assim.
No caso de Jonas, que foi pregar arrependimento a Nínive,
ele foi ordenado por Deus a ir a Nínive, mas não foi. Aí Deus mandou uma
tempestade e um grande peixe para engolir Jonas; e na barriga do peixe, no
fundo do mar, ele mudou de idéia. De fato, Deus o colocou em uma situação
dificílimo. Mas, enfim, Jonas fez a sua própria decisão: foi pregar em Nínive.
Ele pensava e esperava que houvesse uma grande destruição daquela capital de
uma nação inimiga de Israel. Quando Jonas não viu essa destruição, porque
Nínive se arrependeu, ficou com raiva de Deus. Depois que a planta cresceu e
confortou Jonas, e murchou, e ele teve pena da planta, Deus lhe ensinou uma
grande lição: Deus tem pena dos pecadores e faz tudo para que se arrependam e
não sejam destruídos. Jonas não teve pena dos pecadores prestes a serem
destruídos. Deus termina dizendo, "Não deveria eu ter pena dessa grande
cidade [com 120.000 pessoas]?"(4:11). Neste pequeno livro, vemos a escolha
de Jonas e a dos ninivitas. Vemos a compaixão de Deus em querer não castigar,
oferecendo uma chance de salvação. Se eles todos foram predestinados a serem
salvos, por que enviar Jonas? Por que exigir uma decisão da parte deles? Não
vejo nada predestinado, mas um Deus amoroso que manda um apelo a um povo que
podia decidir; e decidiu, abandonando seus pecados e recebendo o perdão de
Deus.
Em Mateus 22.1-14, Jesus conta uma parábola para ensinar uma
verdade. Um rei convidou muitos para a festa de casamento do seu filho.
Terminadas as preparações, enviou o último convite. Mas esses convidados (por
longo tempo) decidiram não dar atenção ao convite do rei. Ao invés disso, alguns
maltrataram os enviados do rei e até mataram-nos. Por isso o rei destruiu os
assassinos. Depois ele enviou um convite a quaisquer pessoas que se
encontrassem pelas ruas, boas e más. É fácil entender que esse primeiro convite
foi a vinda de Jesus aos judeus, que o rejeitaram, e levaram a rejeição ao
ponto de matar os mensageiros. Os outros são nós, os gentios, bons e maus. Se
os primeiros convidados não quiseram, alguns vão querer e aceitar o convite.
Jesus termina a parábola com um ditado que explica esses resultados: 14.
"Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos". Quem são esses
"chamados"? Obviamente, são os judeus, os primeiros a serem chamados,
de que praticamente todos, rejeitaram o convite. Ser chamado não significa ser
um dos salvos. Para nós, quando lançamos o convite da salvação, essas pessoas
estão sendo chamadas. O que decidirem fazer com esse convite é que vai
determinar o seu destino. (Evidentemente o rei queria a sua presença, mas a
decisão era deles.) E depois diz que "poucos são escolhidos". Desse
primeiro convite, ninguém atendeu. No segundo convite, não deu para encher a
sala de banquete. Foi necessário fazer uma outra chamada.
Com tudo isso, quando o rei foi olhar, uma pessoa não estava
preparada com a veste nupcial providenciada pelo rei (deve ter sido uma ação
desrespeitosa do sujeito). Ele também foi chamado, mas por falta do preparo
exigido (uma roupa especial–para nós arrependimento, batismo, etc), ele não
ficou dentro do grupo dos escolhidos. Dizer que alguém foi escolhido não é
dizer que o rei foi lá fora nas ruas e forçou alguém a ir ao banquete, quer
quisesse quer não. Quer dizer que o convite foi lançado, e para se tornar um
escolhido, o convidado tinha que abandonar seus afazeres, ir à sala de
banquete, vestir a roupa nupcial, e pronto–seria um dos escolhidos. Deus manda
o convite da salvação. Eu escuto. Se eu, por minha própria vontade, me
comportar de acordo com o convite e as instruções, crendo em Cristo, me
arrependendo, sendo batizado e buscando o Reino de Deus, eu sou um dos
escolhidos. Isso não é Deus determinando de antemão que eu tenho que ser um
seguidor. É baseado na minha própria vontade, decisão e obediência. Se
torcêssemos essa parábola de Jesus para ficar como crêem os que acreditam na
predestinação calvinista, seria o rei que determinasse quem aceitasse, e
pronto...já seria um negócio fechado! Por que toda essa dificuldade para encher
a sala de banquete?
No fim de Mateus 23, depois de Jesus falar bastante para os
líderes dos judeus, condenando-os pela sua hipocrisia e desobediência, ele
expressa a sua atitude sobre isso: "Jerusalém, Jerusalém, você que mata os
profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os
seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas
vocês não quiseram. Eis que a casa de vocês ficará deserta". Bem que Jesus
queria salvar a cidade de Jerusalém, mas ela não queria. Se já estava
determinada essa destruição da cidade, por que Jesus teve tanto sentimento? Por
que ele continuaria tentando convencê-la? Creio que é como o nosso ditado:
"Onde há vida, há esperança". Se Jesus soubesse que a cidade estava
perdida, predeterminada, por que ele gastaria tanto tempo, e por que todo esse
sentimento? Se já estava determinado e Jesus continuou apelando, dá a idéia de
que ele não sabia de tudo. De qualquer maneira, essa teoria de predestinação,
como é aplicada hoje em dia, leva a muitas conclusões tolas.